Velho estilo
Poema de Cecília Meireles
Coisa que passas, como é teu nome?
De que inconstâncias foste gerada?
Abri meus braços para alcançar-te:
fechei meus braços, - não tinha nada!
De ti só resta o que se consome.
Vais para a morte? Vais para a vida?
Tua presença nalguma parte
é já sinal da tua partida.
Tua presença nalguma parte
é já sinal da tua partida.
E eu disse a todos desse teu fado,
para esquecerem teu chamamento,
saberem que eras constituída
da errante essência da água e do vento.
Todos quiseram ter-te, malgrado
prenúncios tantos, tantas ameaças.
Grande, adorada desconhecida,
como é teu nome, coisa que passas?
Pisando terras e firmamento,
com um ar de exausta gente dormida,
abandonaram termos tranquilos,
portas abertas, áreas de vida.
abandonaram termos tranquilos,
portas abertas, áreas de vida.
E eu, que anunciei o acontecimento,
fui atrás deles, com insegurança,
dizendo que ia por dissuadi-los,
mas sendo a sua mesma esperança.
No ardente nível desta experiência,
sem rogo, lágrima nem protesto,
tudo se apaga, preso em sigilos:
tudo se apaga, preso em sigilos:
mas no desenho do último gesto,
há mãos de amor para a tua ausência.
E esse é o vestígio que não se some:
há mãos de amor para a tua ausência.
E esse é o vestígio que não se some:
resto de todos, teu próprio resto.
- Coisa que passas, como é teu nome?
Fonte: "Obra poética", Editora Nova Aguilar, 1983.
Originalmente publicado em: "Vaga Música", 1942.
- Coisa que passas, como é teu nome?
Fonte: "Obra poética", Editora Nova Aguilar, 1983.
Originalmente publicado em: "Vaga Música", 1942.