Ainda Sevilha ao telefone
Poema de João Cabral de Melo Neto
Quando pelo telefone
quero falar com Sevilha
e Sevilha, por acaso,
está no instante dormida,
deixo aberto o telefone
à concha de voz vazia:
ouço então no telefone
como relógio com vida,
toda uma vida passar
como o ácido vivo de ginja.
Ninguém fala ao telefone,
mas há pulsação longínqua;
onde há um pregão de tudo,
onda há pragas de vizinhas,
e se ouve o arfar de cidade
que sabe dormir feminina.
Fonte: "A educação pela pedra e depois", Editora Nova Fronteira, 1997.
Originalmente publicado em: "Sevilha andando", Editora Nova Fronteira, 1989.
Fonte: "A educação pela pedra e depois", Editora Nova Fronteira, 1997.
Originalmente publicado em: "Sevilha andando", Editora Nova Fronteira, 1989.