Quadras populares 981 a 1.000


Poema anônimo



981

Você que pita cigarro
Dá uma fumaça pra eu;
Tenho fumo, tenho palha,
Minha faca se perdeu.

982

Você é fio do Juca,
Mas é fio do pecado;
Que morou c’uma maluca
Sem nunca se ter casado.

983

Você diz que amor não dói,
Amor dói no coração;
Tenha lá amor ausente
Pra você ver se dói ou não.

984

Vou correndo, vou gritando
Me queixar à minha avó:
Comeram-me o beiço todo,
Deixaram-me a língua só.

985

Vamos dar a despedida,
Viola desafinou:
Não sei se é da viola
Ou se é do tocador.

986

Vamos dar a despedida
Como deu a saracura
Que se despediu cantando:
"O mal de amor não tem cura."

987

Vou contar dos meus trabalhos
Para ver se sente ou não,
Pra ver o que padeci
Nas viagens do sertão.

988

Vem, ó noite, ó doce amiga
Do meu triste coração;
Só conversando contigo
Encontro consolação.

989

Vem, meu anjo, que eu não posso
Viver neste ermo sem ti;
Vem, meu anjo, se não vens
Cuidarei que te perdi.

990

Você me chamou cachorro,
Eu não sou cachorro, não:
Se eu mordi o seu pezinho
É porque tinha razão.

991

Vamos dar a despedida
Como deu a saracura;
No virar da encruzilhada
Tomou fogo na cintura.

992

Vou-me embora, vou-me embora,
Vou-me embora... não vou, não.
Embora que eu vá m’embora
Meu coração não vai, não.

993

Vamos juntos para o campo,
Pastora do lindo rosto;
Teu olhar é um pirilampo
Na treva do meu desgosto.

994

Vão os regatos pro rio
E vão os rios pro mar.
O bem querer da minh’alma
Vai na tua desaguar.

996

Você diz que sabe muito,
Há outros que sabem mais;
Há outros que tiram pomba
Do laço que você faz.

997

Você diz que me quer bem,
Eu também estou te querendo;
Um bem se paga com outro,
Inda fico te devendo.

999

Yayá, você quer morrer?
Se morrer, morramos juntos.
Eu quero ver como cabem
Numa cova dois defuntos.

1000

Zombando peguei te amar,
Zombando amor te tomei,
Zombando tu me mataste,
Zombando morto fiquei




Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.