Quadras populares 961 a 980


Poema anônimo



961

Um pé de limão mais doce,
Outro de limão azedo;
Amor de gente casada
É coisa que tenho medo.

962

Um dia de noite escura
Vi um vulto na janela;
Pensei que era o meu amor,
Era uma gata amarela.

963

Um laço de fita adiante,
Dois laços de fita atrás,
O luxo dessa morena
Tá matando um só rapaz.

964

Você me chama pretinho,
Eu sou pretinho dengoso;
Pimenta do reino é preta
Mas faz de comer gostoso.

965

Você diz que sabe muito,
Borboleta sabe mais:
Anda de perna pra riba,
Coisa que você não faz.

966

Você diz que bala mata,
Bala não mata ninguém;
A bala que mais me mata
São os olhos de meu bem.

969

Vou-me embora, vou-me embora,
Para a minha terra eu vou;
Se eu aqui não sou querido
Lá na minha terra eu sou.

970

Vai-te, verso venturoso
Rompendo pelo jardim;
Vai dizer àquela ingrata
Que não se esqueça de mim.

971

Violeiro, violeiro,
Um favor vou lhe pedir:
O verso que lhe botei
Nunca o torne a repetir.

972

Você de lá, eu de cá,
Ribeirão passa no meio;
Você de lá dá um suspiro,
Eu de cá suspiro e meio.

974

Você é a manjerona,
Eu sou o manjericão;
Menina, diga a seu pai,
Que pretendo a sua mão.

975

Você diz que me quer bem,
Eu ’to vendo que é engano:
Você tosa a minha pele
Como tesoura no pano.

976

Você diz que me quer muito,
Eu também quero a você:
Juntando gosto com gosto,
Se é seu gosto é meu também.

977

Você diz que me quer bem
No cantinho de seu peito;
É mentira, não quer não,
Quem quer bem tem outro jeito.

978

Vamos dar a despedida
Como deu a patativa;
Adeus, coração de prata,
Perdição da minha vida!

979

Vinguei-me, matei Cupido,
Seu corpo às feras lancei;
Seus ministros templo, altar,
Destruí, desfiz, queimei.

980

Viola, minha viola.
Peito de jacarandá;
O relógio de ciúme
’Tá batendo tá lá tá.




Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.