Exílio
Poema de Cecília Meireles
Das tuas águas tão verdes nunca mais me esquecerei.
Meus lábios mortos de sede
para as ondas inclinei.
Romperam-se em teus rochedos:
só bebi do que chorei.
Perderam-se os meus suspiros
desanimados, no vento.
Recordo tanto o martírio
em que andou meu pensamento!
E meus sonhos ainda giram
como naquele momento.
Os marinheiros cantavam.
Os marinheiros cantavam.
Ai, noite do mar nascida!
Estrelas de luz instável
saíam da água perdida.
Estrelas de luz instável
saíam da água perdida.
Pousavam como assustadas
em redor da minha vida.
Dos teus horizontes quietos
nunca mais me esquecerei.
Por longe que ande, estou perto.
Por longe que ande, estou perto.
Toda em ti me encontrarei.
Foste o campo mais funesto
por onde me dissipei.
Foste o campo mais funesto
por onde me dissipei.
Remos de sonho passavam
por minha melancolia.
Como um náufrago entre os salvos,
meu cor-ação se volvia.
meu cor-ação se volvia.
- Mas nem sombra de palavras
houve em minha boca fria.
houve em minha boca fria.
Não rogava. Não chorava.
Unicamente morria.
Fonte: "Obra poética", Editora Nova Aguilar, 1983.
Originalmente publicado em: "Vaga Música", 1942.