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Poema de José Albano
Depois que do farpão cruel e agudo
Trago o meu brando coração ferido,
D’Amor não mais descreio nem duvido,
Co’Amor não mais me engano nem me iludo.
Pois era cego e vejo, estava mudo
E a voz espalho em canto nunca ouvido,
Vivia surdo e ouço o menor gemido,
Nada sentia e sinto agora tudo.
Sinto arder fogo e resfriar-se gelo,
Pesar-me mágoa e aliviar-me gozo,
E um bem ando buscando sem querê-lo.
Desejo e não desejo, ouso e não ouso,
E, só porque fitei um rosto belo,
Rio, padeço, choro e sou ditoso.
Fonte: "Rimas de José Albano", Pongetti, 1948.
Originalmente publicado em: "Rimas - Redondilhas; Rimas - Alegoria, Canção a Camões, Ode à Língua Portuguesa", Oficinas de Fidel Giró, 1912.