Volúpia

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Poema de Gilka Machado



Tenho-te do meu sangue alongada nos veios;
à tua sensação me alheio a todo o ambiente;
os meus versos estão completamente cheios
do teu veneno forte, invencível e fluente.

Por te trazer em mim, adquiri-os, tomei-os,
o teu modo sutil, o teu gesto indolente.
Por te trazer em mim moldei-me aos teus coleios,
minha íntima, nervosa e rúbida serpente.

Teu veneno letal torna-me os olhos baços,
e a alma pura, que trago e que te repudia,
inutilmente anseia esquivar-me aos teus laços.

Teu veneno letal torna-me o corpo langue,
numa circulação longa, lenta, macia,
a subir e a descer, no curso do meu sangue.



Fonte: "Estados de Alma", 1917.
Originalmente publicado em: "Estados de Alma", 1917.

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