Tédio

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Poema de Gilka Machado



Principia o verão. Toda a mata tressua.
Quedam-se as aves, a água, as frondes. Calmaria...
Não tem raios, parece uma febrenta lua
o Sol. Brumoso véu o infinito enuvia.

Creio que grande mal na Natureza atua:
um pleno desalento, um sopor de agonia.
Muda e imóvel, assim, tem a Terra, na sua
atitude, a expressão de quem a Morte espia.

Nem risos de prazer nem ais de angústia: nada.
Dia para o sabor do Tédio, tão somente.
A atmosfera recorda água morna e estagnada.

A minha alma, vencida, em meio a tantas mágoas,
paira na vastidão tristíssima do ambiente,
como uma enorme não encalhada nas fráguas.



Fonte: "Estados de Alma", 1917.
Originalmente publicado em: "Estados de Alma", 1917.

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