Quadras populares 801 a 820
Poema anônimo
801
Quando eu era frango novo
Comia milho na mã;
Agora sou gallo velho,
Batto c’o bico no chão.
802
Quando nesta casa entrei
Me esqueceu a cortesia;
Agora que estou de dentro
Guarde Deus a bizarria.
803
Quero ver como se atam
Dois coriscos num pau só:
Um subindo, outro descendo,
Jogando lasca em redor.
Dois coriscos num pau só:
Um subindo, outro descendo,
Jogando lasca em redor.
804
Quando de ti me apartei,
Suspirando e dando ais,
Pensei de perder a vida.
De morrer, não te ver mais.
805
Quem tem o tempo de seu
E dele não se valeu,
É de bem que agora chore,
Chore o tempo que perdeu.
E dele não se valeu,
É de bem que agora chore,
Chore o tempo que perdeu.
806
Quando eu fui aqui chegando
Logo por ti perguntei;
Não me deram novas tuas....
De vergonha não chorei.
De vergonha não chorei.
807
Quer me matem, quer me firam,
Quer façam pouco em meu brio,
Para eu deixar de te amar
É malhar em ferro frio.
808
Que importa que o sol renasça
Pra quem tormentos padece?
Cedo madruga a desgraça,
Tarde a ventura amanhece.
809
Quem ama amor impedido
Tem valor, tem coração.
Parece que todos dizem:
"Prende e mata este ladrão!"
810
Quem ama amor impedido
Tem tudo, nada lhe falta;
Tem gosto, tem alegria,
Tem raiva, paixão que mata.
811
Quem ama amor impedido
Tem tudo, nada lhe falta;
Tem gosto, tem alegria,
Tem raiva, paixão que mata.
811
Quando eu brigar com meu bem
Não se intrometa ninguém,
Que, quando a raiva passar,
Ou eu vou ou ele vem.
812
812
Queremos Pedro II
Embora não tenha idade,
A Nação dispensa a lei
E viva a Maioridade!
813
Quem não sai de meu sentido
Está daqui muito longe:
A saudade quando é muita
Faz um coração de bronze.
814
Quebranto que você me pôs
Tá custoso de sair:
Amor que tenho a você
Inda há de me consumir.
815
Quem me dera dar um ai,
Depois de um ai um suspiro;
Quem me dera ver agora
Quem não sai de meu sentido.
816
Quando eu passo em tua porta
Teu pai sempre diz: São Bento.
- Não sou cobra que te morda,
Nem sou bicho peçonhento.
817
Quem quiser comprar eu vendo
Vosso amor que já deixei:
Não é caro nem barato,
É pelo preço que comprei.
818
Quem me dera estar agora
Onde está meu coração:
Está no campo da saudade
Onde meus suspiros vão.
819
Quem quiser comprar saudade
Eu tenho semente e dou:
Eu tenho um canteiro cheio
Que aquele ingrato deixou.
820
Quero bem à flor da murta,
Aquela que dá no chão;
Quanto mais carinho eu faço
Mais desenganos me dão.
Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.