Noite selvagem
Poema de Gilka Machado
Entro na selva. A noite é espessa. De centenas
de pirilampos toda a mata se ilumina;
astros movem no espaço as rutilas antenas,
como insetos de luz, numa etérea campina.
Ergo ao céu, desço à terra a assombrada retina,
e ante as luzes astrais e ante as luzes terrenas,
a terra e o céu, o céu e a terra, julgo, apenas,
um só céu que se estende, alonga e não termina.
Em cima há tanta luz que o olhar erguido pasma!
Cada estrela parece um luminoso miasma
a medrar, a fulgir da treva na espessura.
E a noite de tão negra, e tão amplia, e tão densa,
é um pântano infinito, uma lagoa imensa,
a decompôr-se em luz, a efervescer na altura.
Fonte: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.
Originalmente publicado em: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.