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Poema de Gilka Machado



Longe de ti, minha ânsia exige-te ao meu lado,
quer te sentir o corpo, a carne impura e viva,
quer a certeza ter de que estás humanado,
gozar todo o calor que de ti se deriva.

Mas, não sei se porque tanto te haja sonhado,
esta paixão se fez apenas subjetiva;
corro a ti! (e o meu ser é um chamamento, um brado...)
- cada vez mais de mim tua forma se esquiva.

Busco-te: logo vens; sinto-te os passos lestos
e sutis (mais sutis só caminham as brisas),
trazes odor na voz, nos olhares, nos gestos.

E, de ti perto, toda esta ânsia se resume
em ter a persuasão de que te evaporizas,
em ficar a absorver-te, a gozar-te em perfume.



Fonte: "Estados de Alma", 1917.
Originalmente publicado em: "Estados de Alma", 1917.


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