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Poema de Gilka Machado



A que buscas em mim, que vive em meio
de nós, e nos unindo nos separa,
não sei bem aonde vai, de onde me veio,
trago-a no sangue assim como uma tara.

Dou-te a carne que sou... mas teu anseio
fora possuí-la - a espiritual, a rara,
essa que tem o olhar ao mundo alheio,
essa que tão somente astros encara.

Sempre a revolta vem de uma agonia:
a injúria ser um beijo poderia,
teu beijo envenenou-me o paladar.

Medita alma volúvel, alma fria:
- quanta vez uma ofensa acaricia!
- como um carinho sabe nos matar!



Fonte: "Meu glorioso pecado", Almeida Torres & C, 1928.
Originalmente publicado em: "Meu glorioso pecado", Almeida Torres & C, 1928.


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