Sensual

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Poema de Gilka Machado



Quando, longe de ti, solitária, medito
este, afeto pagão que envergonhada oculto,
vem-me às narinas, logo, o perfume esquisito
que o teu corpo desprende e há no teu próprio vulto.

A febril confissão deste afeto infinito
há muito que, medrosa, em meus lábios sepulto,
pois teu lascivo olhar em mim pregado, fito,
à minha castidade é como que um insulto.

Se acaso te achas longe, a colossal barreira
dos protestos que, outrora, eu fizera a mim mesma
de orgulhosa virtude, erige-se altaneira.

Mas, se estás ao meu lado, a barreira desaba,
e sinto da volúpia a ascosa e fria lesma
a minha carne poluir com repugnante baba...



Fonte: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.
Originalmente publicado em: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.

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