Rio

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Poema de Gilka Machado



Da pétrea catedral de esplêndida cascata,
como de monjas longa e estranha procissão,
de águas alvo cortejo, em curvas, se desata,
entoando religioso e frio cantochão.

E, às vezes, esbordoando as rochas, pela mata,
ronca o rio raivoso em plena solidão,
e toda a frágil flor ripícola arrebata,
sepultando o que nele achara berço, então.

Há no rio a tristeza, a cólera e o prazer,
em seu constante curso ele nos manifesta
todas as vibrações vitais do humano ser.

E julgo-o, quando o vejo espreguiçado à sesta,
um sátiro, com o corpo encurvado, a lamber
o ventre virginal e verde da floresta.



Fonte: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.
Originalmente publicado em: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.

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