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Poema de Gilka Machado



Chuva de cinzas... Cai a tarde lá por fora
na extática mudez da Terra triste e viúva;
e da tarde ao cair - sinto - a minha alma, agora,
embuça-se na cisma e no torpor se enluva.

Hora crepuscular, hora de névoas, hora
em que de ignoto bem o humano ser enviúva;
e, enquanto em cinza todo o espaço se colora,
o tédio, em nós, é como uma cinérea chuva.

Hora crepuscular - concepção e agonia,
hora em que tudo sente uma incerteza imensa,
sem saber se desponta ou se fenece o Dia;

hora em que a alma, a cismar na inconstância da sorte,
fica dentro de nós, oscilando, suspensa,
entre o ser e o não ser, entre a existência e a morte.



Fonte: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.
Originalmente publicado em: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.