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Poema de Gilka Machado
Anoitece. Há por todo este imóvel ambiente
a chorosa mudez, o silêncio funéreo
de um lar, de onde saído haja, recentemente,
um féretro buscando a paz do cemitério.
Anoitece. De longe um sino, lentamente,
anuncia da morte o insondável mistério,
e a alma, todo o pungir que o espaço sente, sente...
casa-se nossa dor ao sofrimento etéreo.
O dia é uma ilusão, o ocaso um campo-santo;
as almas não são mais de que funéreas lousas,
ó dias e ilusões! tendes igual destino!
Um dia morto... uma ilusão que morre... e, enquanto,
fora, o sino interpreta a tristeza das coisas,
plange a tristeza em nós, como um soturno sino.
Fonte: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.
Originalmente publicado em: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.