*

Imagem de Gilka Machado

Poema de Gilka Machado



O alvo frouxel do luar se estende pelo mato...
Um perfume sutil, preguiçoso, flutua,
e, mal no espaço o absorve, em vão perscruta o olfato
se ele subiu da Terra ou se desceu da Lua.

Toma-me todo o corpo um langor insensato,
fecho os olhos e sinto a alma carícia tua -
- sonho! - é apenas a luz que me amacia o tato
e, qual um pólen, cai na minha cútis nua.

É a luz lunar que, umente e untuosa, como cola,
escorre pelo azul... Vence-la, embora queira,
já no cérebro meu, à toa, a ideia rola...

A Lua, álgida flor de célica esponjeira,
desabrocha na altura, a pálida corola
e desprende do luar a essência dormideira.



Fonte: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.
Originalmente publicado em: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.

Tecnologia do Blogger.