brinquedo

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Poema de Oswald de Andrade



Boda roda São Paulo
Mando tiro tiro lá

Da minha janela eu avistava
Uma cidade pequena
Pouca gente passava
Nas ruas. Era uma pena

Desceram das montanhas
Carochinhas e pastoras
Por dormir em meus olhos
Me levaram pra abrolhos

Os bondes da Light bateram
Telefones na ciranda
Os automóveis correram
Em redor da varanda

Roda roda São Paulo
Mando tiro tiro lá

Brinquedos de comadre
Começaram pela vida
Pela vida começaram
Comadres e mexericos

Roda roda São Paulo
Mando tiro tiro lá

Depois entrou no brinquedo
Um menino grandâo
Foi o primeiro arranha-céu
Que rodou no meu céu

Do quintal eu avistei
Casas torres e pontes
Rodaram como gigantes
Até que enfim parei

Roda roda São Paulo
Mando tiro tiro lá

Hoje a roda cresceu
Até que bateu no céu
É gente grande que roda
Mando tiro tiro lá



Fonte: "Oswald de Andrade - Poesia Reunida", Editora Civilização Brasileira, 1974.
Originalmente publicado em: "Pau-Brasil", Sains Peril, 1925.