Bailado das ondas
Poema de Gilka Machado
Vede-as: ei-las que vêm - eternas bailarinas,
para a festa noturna e fádica do luar,
segue-as o coro alegre e alacre das ondinas,
vede-as: ei-las que vêm, todas juntas, bailar.
Corpos nus, braços nus, que flavas serpentinas
cingem, abstratas mãos de brancura polar
surgem, despetalando orquídeas argentinas,
sobre a pelúcia azul do tapete do mar.
De quando em vez, na praia, uma a sorrir se apruma,
sobe num rodopio e alva coma de espuma
desnastra, serpenteando o leve corpo no ar.
E a Lua, erguendo a fronte ebúrnea e cismadora,
deixa rolar no azul a cabeleira loira,
pela praia alongando o indiferente olhar.
Fonte: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.
Originalmente publicado em: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.