Vinho de Hebe
Poema de Leonor Posada
Enchi do amor a taça refulgente
e na mão tenho-a desse vinho cheia:
- capitoso licor que abrasa e ateia
os fortes corações de toda a gente -.
Tu, conviva do sonho que me enleia,
deves dela beber gostosamente;
chego-t'a ao lábio, tímida, tremente,
com o grato gesto de quem dá e anseia.
De um trago o vinho sorves, no entretanto;
e eu, que esperava partilhar do encanto
desse néctar sem par, que tresvaria,
fico muda ao teu lado, num queixume:
nem me deixaste ao menos o perfume
do amor no fundo... - A taça está vazia!
Fonte: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.
Originalmente publicado em: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.