Solidão
Poema de Alphonsus de Guimaraens
O outono, o inverno, a primavera, o estio,
Uma após outra vêm e elas todas se vão...
No entanto o inverno regelado e frio
É a minha unica estação!
Passam meses e eu, pobre, pobre, pobre,
Cada vez mais velho, vou pedindo esmolas...
Ó vida triste de um ancião tão nobre,
Como entre sombras sepulcrais te evolas!
Minha barba é branca, meu cabelo tomba...
Tão cedo viestes, minhas doces cãs!
Minha alma é como um ninho de pomba
Onde não entra o sol das manhãs...
Passam anos e eu, pobre, pobre, pobre,
Cada vez mais velho vou pedindo esmolas.. .
Uma nesga de azul toda a minha alma cobre.
Nos meus olhos o luar soluça barcarolas.
Quem há de acompanhar este mendigo
Pelas escarpas onde sangra os pés?
Ó poentes de ultra-mar, vinde sonhar comigo!
Quero para morrer pompas que vi nas Sés...
Fonte: "Pastoral aos crentes do amor e da morte", Monteiro Lobato & Cia. Editores, 1923.
Originalmente publicado em: "Pastoral aos crentes do amor e da morte", Monteiro Lobato & Cia. Editores, 1923.