A uma senhora indiferente
Poema de Ronald de Carvalho
Muda-se o claro dia em noite escura,
A névoa em luz sutil, que resplandece
E os campos doura, as sebes reverdece,
E enche de azul sereno a imensa altura;
Muda-se em fina poeira a pedra dura,
O botão em corola, a loura messe
Em trigo, a flor em fruto que apetece,
E a tristeza das horas em ventura.
Muda-se o doce arroio em onda amarga,
O vento em calmarias, a esperança,
De enganos leves, em pesada carga.
Somente vós, por quem vivi penando,
Entre as coisas que sempre vão mudando,
Não conhecestes sombra de mudança!
Fonte: "Poemas e sonetos", Leite Ribeiro & Mourillo, 1919.
Originalmente publicado em: "Poemas e sonetos", Leite Ribeiro & Mourillo, 1919.