Quadras populares 501 a 520


Poema anônimo



501

Moça, dê cá sua mão.
Seu pulso eu quero tomar;
Se a doença for saudade
Seu benzinho chega já.

502

Me leve num sufragante
Onde meu benzinho está:
Minha doença é querer bem.
Inda pode me matar.

(Num sufragante = num ápice)

503

Menina, quando eu morrer,
Não enterre no sagrado;
Enterre no mato grosso
Que é logar dos desgraçados

(No sagrado =  cemitério)

504

Menina, seu pai é rico,
Só bota chapéu de banda ;
Toma cuidado, menina,
Que a roda anda e desanda.

505

Mulata, busca outra vida,
Não me arrelie mais não:
O marimbondo suicida
Quando perde o seu ferrão.

507

Meu amigo e companheiro,
Uma coesa vou dizer:
Para com suas cantigas
Se ocê inda quer viver.

508

Meu amigo e companheiro,
Um favor lhe vou pedir:
Quebre, quebre essa viola,
Deixe a gente divertir.

509

Minha viola, caboclo,
Não quebro, não quebro, não,
Que esta tirana é que alegra
A gente nesta função.

510

Meu amigo c companheiro,
Um favor vou lhe pedir:
Esse verso que bolou
Não me torne a repetir.

511

Meu amigo e companheiro,
Agora vou lhe dizer:
Carro não anda sem boi,
Eu não canto sem beber.

512

Moça que pita cigarro
Na minha cama não deita,
Que a fumaça do cigarro
Meu coração não aceita.

513

Menina, minha menina,
Coração de espada nua:
Acorda quem está dormindo,
Consola quem está na rua.

514

Meu coração fugitivo
Fugiu de cá para lá:
Serve-te dele constante,
Me manda o teu para cá.

515

Menina, se perguntarem
Quem cantou fora de hora,
Diz que foi um canário,
Bateu asas, foi-se embora.

516

Menina, teu passarinho
De minha mão se soltou;
Para mais me maltratar
Penas na mão me deixou.

517

Mandei fazer um relógio
Da casca de um caranguejo
Para contar os minutos
Das horas que não te vejo.

518

Meu amor não é de rogo
Nem de rogar a ninguém:
Arrenego de amor firme
Que a troco de rogo vem.

519

Mulatinha, você tem
Quatro coisas de meu gosto:
Perna grossa, bom cabelo,
Corpo são, bonito rosto.

520

Minha mulata bonita
Esta noite fez da boa:
Fez-me dormir no sereno
Como junco na lagoa.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.