Quadras populares 301 a 320
Poema anônimo
301
É de devera, meu mano,
Bonito vou lhe falá:
Já tirei uma mumbuca
No chifre de um marruá.
(De devera = de verdade; mumbuca = abelha)
302
É de devera, meu mano,
Bonito vou lhe falá:
Quero que você me diga
Quantas pintas tem cocá.
(Cocá = galinha da angola)
304
É de devera, meu mano,
Bonito vou lhe falá:
Quero que você me diga
Quantas pintas tem gambá.
305
Bonito vou lhe falá:
Quero que você me diga
Quantas pintas tem gambá.
305
É de devera, meu mano,
Bonito vou lhe falá:
Uma na ponta do rabo,
Outra na volta da pá.
306
Eu sou cabra perigoso
Quando pego a perigar:
Eu dou um pulo pra cima,
Apanho mosquitos no ar.
307
Essa dura ingratidão
Faz-me raiva e faz pavor:
Se não me podia amar,
Não me prometesse amor.
308
Eu peço por caridade,
Pelos mistérios da cruz:
Meus irmãos, deem uma esmola
Pelo sangue de Jesus.
309
Eu já tive amor perfeito
Plantado no coração,
Mas mirrou à falta d’água,
Regada por tua mão.
310
Encantos que já não gozo
Mas que não posso esquecer,
Fazem de meus olhos tristes
Meu triste pranto correr.
311
Eu já sei porque amor
Me quis ditoso fazer:
Foi para ver de continuo
Meu triste pranto correr.
313
Esses mares solitários
Vou chorando transitar,
Mas depois ver-me-ão alegre
Se meu bem nunca mudar.
314
Eu sou a tocha do morto
Com a luz já quase extinta,
Ou como a negra mortalha
Que por preta não se pinta.
315
Erguei-vos, flores da noite,
Tristes rosas da manhã;
Velem umas sobre as outras
O túmulo de minha irmã.
316
Envolto em tua mortalha
Meu coração tu levaste:
Antes contigo se fosse
A vida que me deixaste.
317
Esta é a contingência
Da infeliz criatura:
Sofrer dores, sofrer penas
Enquanto a existência dura.
318
Estes mocinhos de agora
Já não sabem mais amar;
Fazem tudo quanto podem
Para as moças enganar.
319
Estes mocinhos de agora
Só querem especular;
Procuram só moça rica
Para má vida lhe dar.
320
Estes mocinhos de agora
Sentimento já não têm:
Fazem mil promessas falsas
Dizendo que querem bem.
Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.