Quadras populares 261 a 280


Poema anônimo



261

Depois de um peito querer,
Do coração agradar,
Não há no mundo poder
Que faça um bem se apartar.

262

Dá-me um beijinho de longe,
Benzinho do coração,
Já que de perto não posso
Gozar a tua atenção.

263

Desbotoa teu colete,
Deixa ver teu camisote,
Quero ver teu peito ingrato
Causador de minha morte.

264

De longe eu te trago perto,
Perto do coração meu,
Porque dentro de meu peito
Eu tenho um retrato teu.

265

Dentro de meu peito eu tenho
Uma tesoura sem eixo:
Esteja certa, meu bem,
Que por outra não te deixo.

266

Da minha casa pra tua
Já foi estrada real,
Mas agora é mata virgem
Coberta de cipoal.

267.

Destes rapazes de agora
Não há nenhum que nem eu;
Só ajustei casamento
Depois que meu pai morreu.

268

Eu não canto ao desafio
Nem que me pague a tostão;
Por causa de um desafio
Já dei c'um cabra no chão.

269

Eu não canto ao desafio
Nem que me pague a pataca:
Por causa de um desafio
Já dei c’um cabra na faca.

270

Eu tenho um saco de verso
Dependurado do oitão:
Se ocê duvida comigo
Eu dou c'o saco no chão.

271

Eu tava cheirando um cravo
Que uma morena me deu:
Já ia tomando o cheiro
Quando a peroba desceu.

(Peroba = cacete)

272

Eu prometi que voltava,
Aqui estou, como tu vês :
Quero matar as saudades
Para voltar outra vez.

273

Estrelas miudinhas
Põem o céu muito composto;
Nunca pude, vidinha,
Falar contigo a meu gosto.

274

Esses olhos têm meninas,
Essas meninas têm olhos;
Os olhos dessas meninas
São meninas dos meus olhos.

275

Eu vivo sem esperanças,
De glórias destituído;
Só tenho prantos, angústias,
Saudades de um bem perdido.

276

Esta noite eu dei um ai
Que rompeu a terra dura.
As estrelas responderam
"Grande ai de criatura!"

277

Eu botei o pé no estribo,
Meu cavalo estremeceu;
Adeus, senhores que ficam,
Quem vai-se embora sou eu...

278

Estava dentro de meu peito
Duas pombinhas criando;
Uma voou, foi-se embora,
Outra ficou mariscando.

279

Embora da Europa venham
Batalhões aos mil e mil,
Nossos braços, nossos jeitos
São muralhas de Brasil.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.