Quadras populares 161 a 180
Poema anônimo
161
Cachorrinha está latindo
Lá debaixo da figueira;
Cala a boca, cachorrinha,
E não seja candongueira.
162
Contai-me, ó filha querida.
De contar não tenhas medo
Eu prometo de guardar
O teu bonito segredo.
163
Cala a boca, minha rola,
Que a cobra eu vou matar:
Os ovos que ela comeu
Ela há de me pagar.
164
Compadeci-vos, Senhora,
De nossos prantos e dores;
Morremos todos à sede
Porque somos pecadores.
(Prece contra o flagelo da seca)
165
Cana verde, cana verde,
Cana do canavial;
Eu já fui mestre de açúcar,
Hoje sou oficial.
166
Caranguejo não é peixe,
Caranguejo peixe é;
Se caranguejo fosse peixe
Dava um bote em vosso pé.
167
Candieiro, entrai na roda,
Entrai na roda sem parar;
Quem pegar o candieiro,
Candieiro há de ficar.
168
Caranguejo não é peixe,
Caranguejo peixe é;
Caranguejo só é peixe
Na vazante da maré.
169
Cravo roxo, sentimento.
Encosto da minha murada,
No dia que não te vejo
Não coso, não faço nada.
(Murfada = almofada)
170
Chove, chuva miudinha,
Na copa de meu chapéu;
Você mesmo é que é a causa
De eu andar de déu em déu.
171
Cravo branco na janela
É sinal de casamento;
Menina, guarda teu cravo
Que inda falta muito tempo.
172
Canoa, minha canoa,
Canoa de meu dinheiro,
Ou aqui ou na Bahia;
Ou no Rio de Janeiro.
173
Cuidado, moças, cuidado!
Não conheceis bem o mundo:
Aprendei logo a nadar
Se não quereis ir ao fundo.
174
Cegou-me a luz de teus olhos,
Enlouqueceu-me teu beijo;
Mas - louco - mais eu te adoro
E - cego - mais eu te vejo!
175
Compadece-te de mim,
Não me faças esquecer,
Que por ti padeço tanto,
Não se me dá de morrer.
176
Cravo branco, cravo roxo,
Cravo de toda nação;
Quando cravo se demuda
Que fará quem tem paixão?
177
Chuva que tem de chover,
Por que é que está peneirando?
Amor que tem de ser meu,
Por que vem negaceando?
178
Caboclo, você não treite,
Sai pra fora e desembucha,
Que eu gosto de vê o cabra
É na boca da garrucha.
179
Curvei a fronte, por que?
Eu mesmo não sei dizer.
Há dores cujo consolo
Está no próprio sofrer.
180
Cachorro que engole osso
Nalguma coisa se fia:
Quando vejo mulher velha
Tomo a bença e chamo tia.
Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.