Pobres sonhos

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Poema de Alphonsus de Guimaraens



Meus pobres sonhos que sonhei, já tão sonhados,
Que vento de desdita e de luto vos leva?
Que fúria sem pavor, sedenta de pecados,
Vos guia em turbilhões de poeira e de treva?

E quem vos faz errar sem crença, aniquilados
Por tal desesperança amargurada e seva,
Que vos vejo adejar, tantos anos passados,
No mesmo céu de sangue onde a morte se eleva.

Sonhos, nuvens do amor, espectros da saudade,
Se o desespero há de chegar um dia destes,
Oh dai-me fé, dai-me esperança e caridade.

E hei de ver-vos voltar, como as visões primeiras,
Meus pobres sonhos que no inferno vos perdestes,
Sob o clarão das três virtudes verdadeiras...



Fonte: "Kiriale", Tipografia Universal, 1902.
Originalmente publicado em: "Kiriale", Tipografia Universal, 1902.