Eras


Poema de Manoel de Barros



Antes a gente falava: faz de conta que
este sapo é pedra.
E o sapo eras.
Faz de conta que o menino é um tatu
E o menino eras um tatu.
A gente agora parou de fazer comunhão de
pessoas com bichos, de entes com coisas.
A gente hoje faz imagens.
Tipo assim:
Encostado na Porta da Tarde estava um
caramujo.
Estavas um caramujo - disse o menino
Porque a Tarde é oca e não pode ter porta.
A porta eras.
Então é tudo faz de conta como antes?



Fonte: "Poesia Completa", Editora Leya, 2010.
Originalmente publicado em: "O fazedor de amanhecer", Editora Salamandra, 2014.

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