Inscrição
Poema de Manuel Bandeira
Aqui, sob esta pedra, onde o orvalho roreja,
Repousa, embalsamado em óleos vegetais,
O alvo corpo de quem, como uma ave que adeja,
Dançava descuidosa, e hoje não dança mais...
Quem não a viu é bem provável que não veja
Outro conjunto igual de partes naturais.
Os véus tinham-lhe ciúme. Outras, tinham-lhe inveja.
E ao fitá-la os varões tinham pasmos sensuais.
A morte a surpreendeu um dia que sonhava.
Ao pôr do sol, desceu entre sombras fiéis
À terra, sobre a qual tão de leve pesava...
Eram as suas mãos mais lindas sem anéis...
Tinha os olhos azuis... Era loura e dançava...
Seu destino foi curto e bom...
– Não a choreis.
Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "A Cinza das Horas", 1917.
Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "A Cinza das Horas", 1917.