À espera

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Poema de Leonor Posada



Julgo que vens me ver, e corro a esperar à porta.
Atento o ouvido a escutar os teus passos na areia;
palpita o coração e a alma toda se ateia
sentindo o teu chegar e me sentindo morta.

Um perfume sutil os ares, doce, corta,
o céu branco e azulado além se delineia,
mas ante esse prazer que minh'alma incendeia,
a frescura do céu, o perfume... que importa...

E eu penso em ti somente; e a esperança de ver-te
faz-me rir e chorar; mas entre o riso e pranto
a dúvida cruel todo o veneno verte.

E em mudo desespero olho a estrada deserta...
E ao sentir que não vens, que te demoras tanto,
Amaldiçôo a dor que esta saudade aperta...



Fonte: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.
Originalmente publicado em: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.