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Poema de Eduardo Guimaraens



Voltei. Vi-te de novo. E o encanto, a que não tento
fugir agora, aviva o que findara aqui;
dói-me, outra vez, o mesmo estranho sofrimento
da hora em que te deixei, do instante em que parti.

Quis esquecer-te. Olhando o mar, ouvindo o vento,
sonhei. Vivi com ânsia! Em vão. Não te esqueci.
E é com tédio que lembro o túrgido lamento
das ondas que sulquei e das canções que ouvi!

De que valeu, então? Sob o amplo firmamento,
fora melhor vagar sem rumo, ao ritmo lento
da água que, à noite, geme e, à luz do sol, sorri!

E olvidar para sempre o antigo desalento!
E este anseio de enfermo! E este letal tormento!
E o desejo da morte! E a saudade de ti!



Fonte: "A divina quimera", digitalização de Marco Antonio Rodrigues ,2006.
Originalmente publicado em: "A divina quimera", Tipografia Apollo Vieira da Cunha & Cia, 1916.

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