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Poema de Eduardo Guimaraens
Vai pela paisagem, languidamente,
como um desconsolo de outono frio;
ou como um sinistro, longo arrepio
que vem do horizonte de um céu dormente.
(Que farás a esta hora?) Do caminheiro
mal a sombra surge. Que paz absorta!
Vive em torno, apenas, verde, um salgueiro
refletido ao fundo de uma água morta.
Sobre um leito de ouro, fosco e sombrio,
morre o sol, sangrento. Noite dolente!
Vai pela paisagem, languidamente,
como um desconsolo de outono frio,
como um ritmo lento de um derradeiro,
solitário acorde que o ar entrecorta,
como o choro verde desse salgueiro
refletido ao fundo dessa água morta.
Fonte: "A divina quimera", digitalização de Marco Antonio Rodrigues ,2006.
Originalmente publicado em: "A divina quimera", Tipografia Apollo Vieira da Cunha & Cia, 1916.