Saudade

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Poema de Alphonsus de Guimaraens



Uma mulher que por amar soluça
Na torre da minha alma se debruça.

E despenha-se o luar pela encosta do noite,
Tranquilamente, como uma fonte.

Dois ou três demônios familiares
Passam cantando, para voar logo após pelos ares.

E despenha-se o luar pela encosta do monte.

O monte fica defronte
Da torre da minha alma onde soluça
Essa mulher: e quando o sol entre as nuvens se embuça,
Nas horas mortas dos crepúsculos tão vagos,
De azul, vestida como o céu, como o céu misteriosa,
Ela abre os olhos imortais, como dois lagos...
Virgem piedosa!
E os sonhos passam, cisnes que não cantam mais,
No infinito dos seus olhos imortais
Abertos para a eternidade...

Pobre mulher, pobre Saudade!



Fonte: "Kiriale", Tipografia Universal, 1902.
Originalmente publicado em: "Kiriale", Tipografia Universal, 1902.