Versos a mim mesmo
Poema de Francisco de Paula Brito
Tenho cinquenta e dois anos
(De que bem pouco me lembro);
Felizmente completei-os
No dia dois de dezembro.
O Brasileiro Monarca,
De quem sou súdito amigo,
Quis dar-me a subida honra
De fazer anos comigo.
O dia, pois, dos meus anos
É dia de grande gala,
Dia em que muito se pensa,
Dia em que muito se fala!
Vejo desde o romper da alva
O Castelo embandeirado,
Toda a corte em movimento,
Todo mundo esperançado.
Há salvas, há luminárias,
Há cortejo, há promoção,
Teatros, grande parada
(Não sendo mês de eleição).
Meus anos, por conseqüência,
São anos imperiais
(Talvez por isso eu pertença
À seita dos cardeais).
Mas apesar da farfança
Da minha vida dourada,
Não tenho cousa que preste;
"Abro a mão, não acho nada!"
É' verdade que se eu fosse
Como quer ser muita gente,
Vivendo como outros vivem,
Vivesse talvez contente...
Mas... este mas quer dizer:
"Cada um pra o que nasceu."
Todos cumprem seu destino,
"Eu cumpro o que Deus me deu."
Fonte: "Poesias", Tipografia Paula Brito, 1863.
Originalmente publicado em: "Livrinho das moças", 1856.