Sonetilho do falso Fernando Pessoa

Imagem de Carlos Drummond de Andrade

Poema de Carlos Drummond de Andrade



Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.

Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.

Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso caristo,

eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto. 



Fonte: "Poesia completa", Editora Nova Aguilar, 2006.
Originalmente publicado em: "Claro enigma", 1951.