Serpente de cabelos
Poema de Cruz e Souza
Por sobre o corpo nu, torso inteiriço,
Claro, radiante de esplendor e viço,
Ah! lembra a noite de astros apagada.
Luxúria deslumbrante e aveludada
Através desse mármore maciço
Da carne, o meu olhar nela espreguiço
Felinamente, nessa trança ondeada.
E fico absorto, num torpor de coma,
Na sensação narcótica do aroma,
Dentre a vertigem túrbida dos zelos.
És a origem do mal, és a nervosa
Serpente tentadora e tenebrosa,
Tenebrosa serpente de cabelos!...
Fonte: "Broquéis", Magalhães & Cia Editores, 1893.
Originalmente publicado em: "Broquéis", Magalhães & Cia Editores, 1893.