O quartel da polícia de Goiás
Poema de Cora Coralina
Cá é bem bão... cá é bem bão... cá é bem bão,
assim, no dizer da gente da cidade,
respondia o sininho da cadeia
ao toque de silêncio do quartel.
O quartel da polícia de Goiás
sempre foi a segurança da cidade.
Guardião de um passado bem passado.
Antigos tempos superados.
A velha formação, a disciplina,
o garbo, o comandante, alferes e tenentes,
anspeçada e furriel.
Cabos e sargentos.
O fardão abotoado.
Botões dourados, dagronas, canutilhos,
atavios desusados.
Quepe, mochila, dolman, pantalonas,
reúnas, canguru rangente, ringideira.
Rifle e baioneta, no ombro a pesada “comblein”,
disparada, que zuadão danado!
O maioral do quartel era mesmo o corneteiro.
Acordava a madrugada,
antes do dia clarear.
A cidade ouvia, do Areião à Santa Bárbara.
Levantava e se punha a trabalhar.
Na alvorada antiga do quartel
era o mundo que acordava.
Repicava o sino das igrejas e cantavam os galos do quintal.
A vida do quartel comandava a vidinha das cidades.
Sempre foi o quartel o coração da gente de Goiás.
A corneta, o corneteiro, o toque de silêncio,
respondia o sininho da cadeia:
cá é bem bão... cá é bem bão... cá é bem bão.
Feriados - desfile da banda pelas ruas,
Feriados - desfile da banda pelas ruas,
domingo - retreta no jardim.
Alta noite, a ronda vigilante, o apito estridente,
recortando o silêncio da noite da cidade.
Ainda escura a madrugada
e a corneta alegre da alvorada,
acordar e trabalhar. Acordar e trabalhar...
O quartel sempre foi o coração da gente da cidade.
Fonte: "Vintém de cobre", Global Editora, 2012.
Originalmente publicado em: "Vintém de cobre: meias confissões de Aninha", Editora da UFG, 1983.