Presa do ódio
Poema de Cruz e Souza
Da tua alma na funda galeria
Descendo às vezes, eu às vezes sinto
Que como o mais feroz lobo faminto
Teu ódio baixo de alcateia espia.
Do desespero a noite cava e fria,
De boêmias vis o pérfido absinto
Pôs no teu ser um negro labirinto,
Desencadeou sinistra ventania.
Desencadeou a ventania rouca,
Surda, tremenda, desvairada, louca,
Que a tua alma abalou de lado a lado.
Que te inflamou de cóleras supremas
E deixou-te nas trágicas algemas
Do teu ódio sangrento acorrentado!
Fonte: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.
Originalmente publicado em: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.