Ódio sagrado

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Poema de Cruz e Souza



O meu ódio, meu ódio majestoso,
Meu ódio santo e puro e benfazejo,
Unge-me a fronte com teu grande beijo,
Torna-me humilde e torna-me orgulhoso.

Humilde com os humildes generoso,
Orgulhoso com os seres sem desejo,
Sem bondade, sem fé e sem lampejo
De sol fecundador e carinhoso.

Ó meu ódio, meu lábaro bendito,
De minha alma agitada no infinito,
Através de outros lábaros sagrados,

Ódio são, ódio bom! sê meu escudo
Contra os vilões do amor, que infamam tudo,
Das sete torres dos mortais pecados!



Fonte: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.
Originalmente publicado em: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.