Nu

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Poema de Manuel Bandeira



Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos.
Brilha o teu umbigo.
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus seios exíguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos -

Brilham.) Ah teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!

Se nua, teus olhos
Ficam nus também;
Teu olhar mais longo,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Boio, nado, salto,
Baixo num mergulho
Perpendicular!

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde
Me sorri tua alma,
Nua, nua, nua.



Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "Estrela da Tarde", 1963.

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