Ironia de lágrimas
Poema de Cruz e Souza
Junto da Morte é que floresce a Vida!
Andamos rindo junto à sepultura.
A boca aberta, escancarada, escura
Da cova é como flor apodrecida.
A Morte lembra a estranha margarida
Do nosso corpo, fausto sem ventura...
Ela anda em torno a toda a criatura
Numa dança macabra indefinida.
Vem revestida em suas negras sedas
E a marteladas lúgubres e tredas
Das ilusões o eterno esquife prega.
E adeus caminhos vãos, mundos risonhos!
Lá vem a loba que devora os sonhos,
Faminta, absconsa, imponderada, cega!
Fonte: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.
Originalmente publicado em: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.