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Poema de Hilda Hilst



De grossos muros, de folhas machucadas
É que caminham as gentes pelas ruas.
De dolorido sumo e de duras frentes
É que são feitas as caras. Ai, Tempo

Entardecido de sons que não compreendo,
Olhares que se fazem bofetadas, passos
Cavados, fundos, vindos de um alto poço,
De um sinistro. Nada.
E bocas tortuosas

Sem palavras.

E o que há de ser da minha boca de inventos
Neste entardecer? E o do ouro que sai
Da garganta dos loucos, o que há de ser?



Fonte: "Da Poesia", Editora Companhia das Letras, 2017.
Originalmente publicado em: "Amavisse", Massao Ohno Editor, 1989.