Fogos fátuos
Poema de Cruz e Souza
Há certas almas vãs, galvanizadas
De emoção, de pureza, de bondade,
Que como toda a azul imensidade
Chegam a ser de súbito estreladas.
E ficam como que transfiguradas
Por momentos, na vaga suavidade
De quem se eleva com serenidade
Às risonhas, celestes madrugadas.
Mas nada às vezes nelas corresponde
Ao sonho e ninguém sabe mais por onde
Anda essa falsa e fugitiva chama...
É que no fundo, na secreta essência,
Essas almas de triste decadência
São lama sempre e sempre serão lama.
Fonte: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.
Originalmente publicado em: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.