Eco
Poema de Silva Alvarenga
Flébil eco destas grutas
Que me escutas rouca e triste,
Onde viste a bela Glaura
Feliz aura respirar?
Sobre as penhas, sobre os vales
Enviei ternos suspiros:
E dos ásperos retiros
Só meus males vi tornar.
Os suspiros lá morreram
Lacrimosos e cansados;
E a pastora, ai desgraçados!
Não poderam encontrar.
Flébil eco destas grutas
Que me escutas rouca e triste,
Onde viste a bela Glaura
Feliz aura respirar?
Perguntei ao claro rio
Nos incultos arvoredos;
Respondeu-me entre os rochedos
O sombrio murmurar.
Acho a praia sem adorno:
E pergunto às tenras flores,
Ninguém viu os meus amores,
E inda torno a perguntar.
Flébil eco destas grutas
Que me escutas rouca e triste,
Onde viste a bela Glaura
Feliz aura respirar?
Pelo bosque se espalharam
Minhas queixas amorosas:
E com as dríades saudosas
Começaram a chorar.
Nem o campo me contenta,
Nem os zéfiros suaves:.
Busco em vão as brandas aves,
Que afugentam o meu pesar.
Flébil eco destas grutas
Que me escutas rouca e triste,
Onde viste a bela Glaura
Feliz aura respirar?
Duro amor, ingrato e fero,
Que me oprimes noite e dia,
Se me levas a alegria,
Não espero mais gozar.
Verdes prados, pura fonte,
Tudo, ó Glaura, desprezaste:
Glaura! ah Glaura! E me deixas-te
Neste monte a delirar!
Flébil eco destas grutas
Que me escutas rouca e triste,
Onde viste a bela Glaura
Feliz aura respirar?
Fonte: "Obras Poéticas", B. L. Irmãos Garnier, 1864.
Originalmente publicado em: "Glaura: poemas eróticos", Officina Nunesiana, 1799.