É tarde
Poema de Francisco de Paula Brito
Lembram-te os dias felizes
Em que meu crédulo peito
Te jurou de amor o voto
Que foi por ti logo aceito?
Oh! quanto prazer te deu
Meu coração inflamado!
(Jamais objeto infiel
Foi mais ternamente amado!)
O tempo tornou-te falsa
E o tempo me consolou;
Amor, que foi obra tua,
Pra sempre de nós voou!...
Esse tempo de venturas
Deixa, pois, de recordar-me;
Vê que eterno é meu silêncio;
Cessa emfim de procurar-me..
Porque me foste infiel
Se o meu amor te convinha?
Nutres em vão a esperança
Que ainda tens de ser minha.
Perdi a credulidade
Que tão cativo me fez;
Para quem ama é bastante
Ser enganado uma vez.
O véu da ilusão se rompe,
E mostra a realidade,
Mas nunca, depois de roto,
Torna a encobrir a verdade.
Me dizes que de amor puro
Teu peito entre as chamas arde:
Me enganaste muito cedo;
Para crer-te, agora é tarde!...
Fonte: "Poesias", Tipografia Paula Brito, 1863.
Originalmente publicado em: "Livrinho das moças", 1856.