As pombas


Poema de Raimundo Correa



Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia, sanguínea e fresca, a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam.
Fogem... mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...



Fonte: "Sinfonias", Livraria editora de Faro & Lino, 1883.
Originalmente publicado em: "Sinfonias", Livraria editora de Faro & Lino, 1883.