Amargura
Poema de Henriqueta Lisboa
Eu chegarei depois de tudo,
mortas as horas derradeiras,
quando alvejar na treva o mudo
riso de escárnio das caveiras.
Eu chegarei a passo lento,
exausta da estranha jornada,
neste invicto pressentimento
de que tudo equivale a nada.
Um dia, um dia, chegam todos,
de olhos profundos e expectantes.
E sob a chuva dos apodos
há mais infelizes do que antes.
As luzes todas se apagaram,
voam negras aves em bando.
Tenho pena dos que chegaram
e a estas horas estão chorando...
Eu chegarei por certo um dia...
assim, tão desesperançada,
que mais acertado seria
ficar em meio à caminhada.
Fonte: "Obra completa", Editora Peirópolis, 2020.
Originalmente publicado em: "Velário", Editora Belo Horizote, 1936.
Fonte: "Obra completa", Editora Peirópolis, 2020.
Originalmente publicado em: "Velário", Editora Belo Horizote, 1936.