A vitória

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Poema de Nestor Victor



- Sol fecundante e bom, ora parado,
Inútil, com uma luz fria dourando
O espetáculo doente revelado
Pela aniquilação, que vem chegando -;

Teu rico e grande olhar, negro e brilhante,
De uma eloquência que desencaminha,
Hoje não veio como dantes vinha,
- Hoje fitou-me manso e aniquilante!

Bem o sei!... bem o sei! - As que, abraçadas
Por braços resolutos e vulgares,
Daqui se foram, mandam-me as risadas
Que ai vêm cristalizando pelos ares...

Bem depressa também, frívola e crente,
Solto o cabelo, estonteada a boca,
Por essa estrada tu, formosa e louca,
Hás de partir maravilhosamente!

Hás de partir! E enquanto aqui, mordido
De despeito, eu sorrio-me amarelo,
Irresoluto, e num desconhecido
Mundo, em vão, a sonhar, eu me desvelo;

Como que presas por fatal cadeia
Do Vencedor no braço destemido,
Que fascinante traz, e apetecido,
Rica fecundação na excelsea veia:

Elas e tu, do amor misterioso
Escravas, em esplêndida coorte,
Celebrareis, cruéis, o fabuloso
Festival da vitória do mais forte.



Fonte: "Transfigurações", H. Garnier, 1902.
Originalmente publicado em: "Transfigurações", H. Garnier, 1902.

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