A benção
Poema de Nestor Victor
Eu tenho dias de tranquilidade
Raros e belos, quando enfim descanso,
Após a luta insana e a ansiedade,
Do puro no alto céu azul e manso.
Qual se vivesse em bem diversa idade
Ou em outro mundo, lá do meu remanso,
Por isto tudo, com serenidade,
Contemplativo, a minha vista eu lanço.
E vem-me um tal sorriso, uma ternura
Tão nova se difunde em meus olhares,
Quando assim vejo as coisas dessa altura;
Que, sentindo que cresço e que encho os ares,
Julgo-me um deus, e então tenho a loucura
De abençoar, bondoso, a terra e os mares.
Fonte: "Transfigurações", H. Garnier, 1902.
Originalmente publicado em: "Transfigurações", H. Garnier, 1902.