A ausência

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Poema de Nestor Victor



Por mais que os dias se prolonguem, cedo
Os que são nossos lá se vão embora,
E quando restam poucas é que o medo
Vem de se ouvir soar a última hora.

Eu, no entanto, que o sei, eu passo ansioso
Ante esta lei fatal que ao tempo prende,
Marcando este pisar angustioso
Aos dias todos que das mãos desprende.

Mas estas horas como aceitaremos,
Estas horas de ausência e de desejos,
Se quando estamos juntos nós vivemos
Cheios de tanto afeto e tantos beijos?

Amar é nunca se sentir fadiga
Por estar perto do seu bem amado,
É ter sede que a fonte não mitiga,
E estando longe estar desesperado!

Eu vivo assim. E se este tempo aceito,
Da ausência, é porque só quando ele passe
Chegam-me as horas de apertar-te ao peito,
Se esbate a noite e nova aurora nasce.



Fonte: "Transfigurações", H. Garnier, 1902.
Originalmente publicado em: "Transfigurações", H. Garnier, 1902.

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